Antropólogo Luiz Eduardo Soares é entrevistado no Trilha de Letras
Referência em segurança pública no país, o antropólogo Luiz Eduardo Soares destaca sua veia literária na participação inédita no programa Trilha de Letras desta quarta (23), às 23h30, na TV Brasil.
O convidado bate um papo com a apresentadora Eliane Alves Cruz sobre o romance Enquanto Anoitece (2023), sua mais nova publicação. Ele faz a leitura de trechos da obra no decorrer da entrevista.
A violência presente na realidade e na ficção pauta a conversa exclusiva. Escritor bem-sucedido, Luiz Eduardo Soares é coautor do best-seller Elite da Tropa (2006), livro policial que redigiu em parceria com os ex-oficiais do Batalhão de Operações Policiais Especil (Bope) André Batista e Rodrigo Pimentel. O título revela casos reais vivenciados na rotina da corporação. O texto inspirou o filme Tropa de Elite (2007), do cineasta José Padilha.
No quadro Dando a Letra, espaço da atração com indicações de leituras, a booktuber Angélica dos Santos recomenda o romance Brava Serena, livro de Eduardo Krause. A trama acompanha o personagem Roberto Bevilacqua, um viúvo solitário que decide sair do Brasil e morar na Itália depois da aposentadoria. A expectativa de uma fase mais pacata é surpreendida com uma amizade inusitada.
O Trilha de Letras fica disponível em formato podcast nas plataformas digitais. O conteúdo ainda pode ser acompanhado no app TV Brasil Play e no canal do YouTube da emissora pública. O programa gravado na BiblioMaison também tem transmissão na Rádio MEC no mesmo dia, mais cedo, às 23h.
Durante a entrevista, Luiz Eduardo Soares aborda o enredo de seu mais recente lançamento. O livro Enquanto Anoitece apresenta a história de um homem simples, do interior do país, cuja trajetória é atravessada pelos acontecimentos políticos e sociais da nação.
A narrativa revela passagens que vão desde a truculência da vida de pistoleiro na época da ditadura até se tornar um pai amoroso. Nessa fase da trama, o protagonista passa por uma transformação e se emprega como porteiro, no Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. A nova rotina reserva surpresas do destino.
Especialista em segurança pública, Luiz Eduardo Soares discute temas como a violência estrutural e uma forma do país não naturalizar tanto a crueldade durante o Trilha de Letras. O convidado traça um panorama sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil.
“A história brasileira é a história da violência de alguma maneira. O passado da colonização, da escravidão e da dizimação das sociedades originárias. As estruturas autoritárias e de exploração do trabalho humano sofreram modificações e se combinaram com processos de modernização e nos inscreveram no mundo como uma sociedade marcada por essas desigualdades”, avalia o antropólogo.
Ele analisa as expectativas para o futuro com base nessa perspectiva histórica. “Olhando para o passado, a gente não encontra muita inspiração a não ser o sentimento de indignação que talvez propulsione um salto de qualidade dependendo de como a gente veja as cenas de horror que caracterizam a nossa história”, observa.
Luiz Eduardo Soares ressalta a contribuição dos livros para a sociedade brasileira. “A gente quando escreve literatura faz perguntas e cria dificuldades para as respostas simples e automatizadas. Para desnaturalizar não só a realidade compartilhada no cotidiano que se converte numa ilusão comum, mas também esse automatismo de respostas superficiais”, diz o entrevistado do Trilha de Letras.
Para o escritor, é preciso instigar o público a desvendar o texto. “Na ficção ou na literatura, a gente tem que fazer um exercício para ter coragem de não saber. Mergulhar na própria ignorância e dessa maneira convocar os leitores para a dança em torno do enigma, do que ainda é misterioso e não conhecido”, afirma.
“A literatura é o espaço da liberdade”, define, com entusiasmo, Luiz Eduardo Soares. “É possível que a gente inclusive crie mundos alternativos. Essa é a beleza e, talvez, o grande impulso intelectual e afetivo da literatura”, sugere.
Apesar disso, ele é reservado ao apontar soluções e considera, ainda, a literatura o principal caminho. “Com as condições que estão dadas hoje, aquilo que tem sido o Brasil, essa profundidade das desigualdades, o racismo estrutural, o patriarcalismo que nos aprisiona nesse quadro sombrio de brutalidade é muito difícil vislumbrar saídas. A gente pode minorar aqui um problema, mitigar outro ali, reduzir danos, mas daqui a um futuro que inspire, inclusive pensando na questão ambiental e na crise climática, a gente precisa da literatura e da imaginação”, conclui o antropólogo.
O Trilha de Letras busca debater os temas mais atuais discutidos pela sociedade por meio da literatura. A cada edição, o programa recebe um convidado diferente. A atração foi idealizada em 2016 pela jornalista Emília Ferraz, atual diretora da produção que entrou no ar em abril de 2017. Nesta temporada, os episódios foram gravados na BiblioMaison, biblioteca do Consulado da França no Rio de Janeiro
A TV Brasil já realizou três temporadas do programa e recebeu mais de 200 autores nacionais e estrangeiros. As duas primeiras temporadas foram apresentadas pelo escritor Raphael Montes. A terceira, por Katy Navarro, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A jornalista, escritora e roteirista Eliana Alves Cruz assume a quarta temporada, que também ganha uma versão na Rádio MEC.
A produção exibida pelo canal público às quartas, às 23h30, tem janela alternativa na telinha em diversos horários. Na programação da Rádio MEC, o conteúdo também é apresentado às quartas, na faixa nobre, às 23h.
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