Filme Oro Amargo discute machismo e desigualdade social

Em uma estrada, no meio do deserto do Atacama, no Chile, Carola e seu pai estão em um carro esperando pelos trabalhadores de uma mina. Os funcionários finalmente chegam e são todos homens – menos essa jovem que mantém sonhos de sair daquela vida e estudar.

Nesse lugar árido e gigantesco, que se transforma também em um personagem, Carola vive com o pai e a violência dos homens. A bordo dessa caminhonete e tendo sempre o deserto como companhia, Carola é a cozinheira dos mineiros e segue em um ir e vir cotidiano, voltando sempre ao mesmo ponto. Até que uma mina abandonada atravessa a sua história para guardar segredos e finalmente transformar o seu destino.

É assim que começa o filme chileno Oro Amargo, dirigido por Juan Olea, e que fez sua estreia em solos brasileiros no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito, o Cinesur, realizado até o próximo dia 2 de agosto na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul.
Na sessão do Cinesur do último sábado (26), o filme e a atuação virtuosa da intérprete de Carola foram bastante aplaudidos e elogiados pelo público. E emocionou a atriz chilena Katalina Sánchez, em sua segunda visita ao Brasil. Em entrevista à Agência Brasil, ela disse que o filme mostra a violência enfrentada pelas mulheres – sugerindo novos significados para o nome da película.
“Essa metáfora surge do que os mineiros nos contaram quando fomos para o norte [do Chile], de que antigamente eles costumavam testar a rocha para ver se ela era de boa qualidade. Então, quando eles extraíam a rocha, eles sabiam que tipo de mineral poderiam explorar dentro da mina. Juan Olea usou isso para contar a história de que, quando há ouro na mina, isso deixa um gosto amargo”, afirmou Katalina.

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Ela se refere a uma cena do filme em que o pai lhe ensina a sentir o gosto da mina para saber quando se pode encontrar um mineral valioso. O ouro, por exemplo, costuma deixar um gosto amargo na boca.
“Mas, se adicionarmos uma outra camada de profundidade, poderíamos entender que o ouro é também ambição e, por trás de uma grande ambição, há um gosto amargo. Há uma situação complicada: coisas ruins estão por vir. Um outro personagem do filme, o padrinho de Carola, também conta neste filme o mito de que, quando há ouro, o diabo aparece. Então, há muitos mitos e lendas que surgem por meio disso. Igualmente quando uma mulher entra na mina e isso traria azar”, completou.
Ao contrário de outros filmes do gênero, esse faroeste latino tem como protagonista uma mulher. São seus olhos que guiam o drama, a ação e o suspense que se desenrolam nesse imenso e violento deserto. “Acho que [esse filme] representa muito bem como as mulheres às vezes se sentem neste mundo que parece tão grande e ainda não tem espaço para nós”, disse a atriz.
“O que Carola tem que passar é bastante doloroso. Ela tem que cuidar de muitas coisas que, dada a sua idade, não deveria ter de enfrentar”, afirma Katalina.
“Você vê uma menina pequena e frágil que só tem o pai e está sob o jugo dele, que é bastante respeitado no mundo da mineração. E, de repente, os papéis mudam, e ela é quem tem que cuidar de tudo isso. Então, acho que, no final, o contexto de viver no deserto, de ter se dedicado à mineração, é a única coisa que a afeta, e ela interpreta isso de um ponto de vista muito mais mental”, argumentou.
Depois da ótima recepção do filme no Festival de Bonito, Katalina espera que o longa siga emocionando plateias, ampliando as discussões sobre as desigualdades e mostrando mais do que o cinema sul-americano é capaz de produzir.
“A recepção do filme em Bonito foi maravilhosa. Me emocionou muito o aplauso final. Foi muito bonito poder estrear esse filme na América do Sul, me parece muito familiar, muito próxima. Não estou dizendo que não pareça assim em outros lugares, mas acho que é uma história que nos toca tão diretamente como cultura, pois podemos — eu sinto que podemos — sentir o perigo, sentir a dor e todo o desenvolvimento emocional pelo qual Carola passou. Acho que entendemos isso como sul-americanos”, acentuou.
O Cinesur é um festival de cinema realizado até 2 de agosto na turística cidade de Bonito. 
*A repórter viajou a convite do Festival de Cinema Sul Americano Bonito Cinesur 2025

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